O GERENTE FICOU MALUCO

O gerente ficou maluco

2016 - 2018 / Intervenção

Placa de oferta Splash, Pincel atômico (vermelho e preto), Câmera (de celular facilita o processo), Impressora, Scanner, Papel, Tesoura ou Refiladora, Photoshop

O gerente ficou maluco é um projeto de intervenções realizadas dentro de supermercados, onde eu modifico placas de oferta e etiquetas de preço dos produtos, trocando informações comuns por valores absurdos e produtos incoerentes. Assim, as etiquetas e placas tornam-se, para mim, pequenos espaços midiáticos, onde eu tenho autonomia para discorrer sobre assuntos que acho pertinente. E da mesma forma que informações comunicativas de mídias de massa chegam ao espectador sem necessariamente ele ter pedido por isso, minhas intervenções repetem esta prática. Com essas ações pretendo provocar pequenos e sutis curtos-circuitos nesses ambientes a fim de atingir sorrateiramente a percepção do espectador-consumidor, causando-lhes ligeiro estranhamento em um momento banal da vida cotidiana: a hora de fazer compras.

O projeto foi iniciado em 2016, utilizando apenas as placas de ofertas nas intervenções. No lugar de textos como QUEIMA DE ESTOQUE, OFERTA e PROMOÇÃO, eu coloco placas com dizeres como LIQUIDAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, PROMOÇÃO DE CARGOS FANTASMAS e BOTA FORA DIREITOS TRABALHISTAS.

Seu caráter gritante e chamativo, com seu fortíssimo e brilhoso tom de amarelo, preto e vermelho, tornava o tempo de duração da obra reduzido, apesar dela se camuflar muito bem no ambiente.

Em um segundo momento, em 2017, comecei a modificar as pequenas etiquetas que mostram o preço de cada produto. A quantidade exorbitante de imagens e textos que se absorve em supermercados acaba se tornando uma via de mão dupla para o trabalho, pois, ao mesmo tempo em que uma pequena etiqueta em um grande mercado lotado de produtos e informações dificilmente será percebida, ela também terá maior tempo de duração, dado que só será reparada pelo consumidor, interessado em comprar especificamente o produto próximo a etiqueta. Portanto, espera-se que, no momento de encontro do espectador-consumidor com a etiqueta, ele não retire a etiqueta do lugar, permitindo que futuros espectadores-consumidores se encontrem com a etiqueta. Provavelmente, quem vai jogar a etiqueta fora vai ser o espectador-funcionário ou o espectador-gerente.

Assim, o tempo de duração do trabalho está diretamente relacionado com o ato de percepção de sua existência e, respectivamente, de sua eficácia em atingir alguém. Sua efemeridade e sua força de comunicação estão do mesmo lado da balança.

O gerente ficou maluco na exposição Transborda Brasília, na Caixa Cultural, 2018

A primeira etapa para realizar as intervenções é estudar o ambiente que sofrerá a interferência e o material que será modificado. Em pesquisas de campo, faço caminhadas, observo as sempre impositivas prateleiras, as gritantes ofertas, os funcionários cansados, os clientes focados em suas compras, as vigilantes câmeras, os repetitivos produtos carentes por atenção, as vozes que saem dos autofalantes gritando promoções, as discretas etiquetas, etc. Estas últimas eu coleto para analisar melhor seus detalhes em casa. Vou a vários mercados de empresas diferentes, observo suas diferenças e agrupo as etiquetas coletadas de acordo com cada mercado. No caso das placas, eu apenas registro alguns exemplos, pela dificuldade de pegar e sair com uma delas do estabelecimento, e por que todas elas seguem o mesmo formato na maioria dos supermercados.Escreva seu texto aqui...

Num segundo momento, eu reproduzo minhas próprias etiquetas e placas. Para produzir as etiquetas, eu utilizo fontes tipográficas parecidas e imito todos os elementos gráficos das etiquetas originais. Depois imprimo no mesmo tamanho, cor e tipo de papel, de acordo com a especificidade de cada etiqueta de cada supermercado diferente. Para produzir as placas, eu escrevo manualmente sobre placas de ofertas vazias utilizando pincel atômico vermelho e preto, imitando o estilo tipográfico das letras originais.

As informações das etiquetas de cada mercado variam de um para o outro. No Carrefour, por exemplo, é explicitada a porcentagem de tributo que o cliente paga; no Extra, há várias informações indecifráveis para o cliente comum; no Big Box, os produtos tem título e subtítulo; no Pão de Açúcar, as etiquetas tem um design bem ruim e o nome dos produtos tem leitura difícil, etc.

Nesta etapa é muito importante contar com a ajuda de amigos e coletivizar o trabalho, assim, caso dê algo errado, um dá o apoio ao outro. Além disso, seu amigo pode contribuir intervindo junto ou registrando as intervenções e as ações. No caso do registro, é importante pensar no equipamento: a câmera tira fotos com melhor qualidade, mas não é tão discreta quanto um celular. Outra tática já utilizada para não ser percebido é carregar um carrinho ou cesto de compras, fingindo ser um consumidor comum.